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Questionamentos

         Através do Blog Dogma recebo vários e-mails apoiando a iniciativa, entretanto, existem pessoas que utilizam esse meio para despejar todo o seu radicalismo contra quem pensa diferente. Juntei os principais questionamentos e montei esse artigo para, de uma única vez, respondê-los.
         Geralmente, como poderão observar as pessoas religiosas radicais só conseguem enxergar aquilo que está diretamente ligado à sua doutrinação e se demonstrando "cega" em um mundo de belas diferenças teológicas. Os seus mitos e lendas são puras verdades porque estão escritos na Bíblia e a mitologia e lendas dos outras consideradas "besteiras", mesmo sem conhecimento do que os outros acreditam e de seus livros sagrados. Utilizando os artigos do Blog Dogma, vou responder aos principais questionamentos:

As origens
         Acreditar no Gênesis Bíblico como lei natural das origens, como fazem os criacionistas radicais, é simplesmente uma lamentável ignorância, quase uma doença impregnada pela educação religiosa imposta desde criança, criando um mundo de demônios e de pecados. É um grande privilégio entender quem somos e de onde viemos e extrapolar para onde podemos ir, principalmente após a publicação do livro de Charles Darwin, “A Origem das espécies”, que nos transportou ao conhecimento de cerca de 3,5 bilhões de anos de vida no nosso planeta, com modificações de forma lenta e gradual, mostrando o nosso parentesco com toda a vida neste planeta.
         A ciência tem a finalidade de buscar respostas para nossas dúvidas propondo hipóteses e teorias, e se possível, testar e refazer experimentos que devem ser amplamente discutidos entre pessoas capazes de ampliar os resultados. A religião deve garantir um apoio emocional, paz e conforto no sentido de criar um caminho para se atingir a dignidade do homem e da sociedade, sem esquecer o propósito fundamental da mitologia de criação que é ajudar a entrar em sintonia e harmonia com a realidade sagrada maior, neste caso, o próprio Universo. Assim, um bom pesquisador poderá ser também um ótimo religioso sem ter arestas ou farpas para se ferir ou ferir alguém. Leia o artigo "As origens".

Dilúvio Global
         Aos olhos da ciência é certo que não houve um único dilúvio universal, mas muitos povos guardaram a lembrança de um dilúvio local, inclusive índios brasileiros. Desta forma, devemos entender que podem ter ocorrido vários eventos isolados que tomaram as proporções bíblicas como citado. A Bíblia como um grande livro, com ensinamentos profundos não deve ser interpretada com um livro de ciência, pois não se explica cientificamente a fé. Agora querer aceitar a Dilúvio descrito no Gênesis como uma verdade histórica é pura insanidade. Para refletir sugiro uma lida no artigo "O Dilúvio Global" e tente explicar:
Um problema de registro - Considerando ao Gênesis, o Dilúvio Bíblico aconteceu quando Noé tinha 600 anos de idade, e considerando que a Terra foi criada em 4004 a.C., conforme acreditam os criacionistas, o Dilúvio ocorreu cerca de 2400 a.C. Nesta data não existe registro histórico de um dilúvio pelos egípcios, pelos fenícios, pelos gregos e nenhuma outra cultura.
O problema da inundação - Outro grande problema a ser discutido é o volume da água para tal enchente. Segundo o texto bíblico, a Terra foi coberta pela água da chuva, incluindo-se os montes. Existe água em suspensão na atmosfera para cobrir os todos os montes? Se utilizarmos toda a água da superfície do planeta para ser depositada sobre o solo, teríamos uma inundação que não chegaria a 3 cm de profundidade.
A construção da Arca - Outro milagre. De acordo com a Bíblia, a Arca tinha dimensões aproximadamente 135 x 22,5 x 13,5 o que representa uma embarcação enorme, provavelmente, o maior navio construído até então na região e que, somente em 1900 é que a tecnologia naval permitiu a construção de navios que só podiam ser usados em águas costeiras.
A ocupação da Arca - Com o mínimo de bom senso não havia espaço suficiente na Arca. Mas os criacionistas, aparentemente sem conhecer direito a biodiversidade da Terra, as complexas relações entre espécies e a fisiologia de cada animal para a condição mínima de sobrevivência, continuam acreditando nessa lenda.
A vida dos pequenos - Outro problema difícil de entender está relacionado a determinados vermes que são parasitas exclusivos do homem e existem outros que são exclusivos de determinados animais. Para facilitar a compreensão do problema, vamos considerar somente as verminoses humanas. É bom lembrar que só sobraram oito pessoas, portanto, todos os vermes intestinais e do sangue deveriam estar sobrevivendo nestas pessoas que estariam muito doentes. Agora vamos colocar nestas pessoas as doenças provocadas por protozoários, vírus e bactérias. Se tudo aconteceu como querem os criacionistas, como Deus poderia ser tão mal para salvar estes parasitas e iniciar um novo mundo com tantos problemas de saúde para a população humana e dos animais?
Os organismos aquáticos - Se caiu chuva (água doce), caiu sobre a terra o suficiente para cobri-la. Os oceanos estariam tão diluídos que poucos organismos marinhos poderiam ter sobrevivido. O problema para a morte dos organismos aquáticos está relacionado a fatos amplamente conhecidos de osmorregulação. 

Quem escreveu a Bíblia
         Só com muita imaginação podemos acreditar que a Bíblia foi escrita inspirada por um poder divino. Leia o artigo "Quem escreveu a Bíblia?". A Bíblia foi escrita por homens que registraram seus mitos e suas lendas em um maravilhoso livro épico que foi moldado durante muito tempo, seguindo os interesses daqueles que dominavam o povo e que hoje é a base de uma legião que representa cerca de 1/3 da população mundial. Na verdade, a Bíblia é apenas um livro muito antigo que contém as crenças, os costumes e os preconceitos naturais de seus autores e dos povos entre os quais viveram. Conforme os antigos hebreus acreditavam e está citado na Bíblia, a Terra era o centro do Universo, plana e com quatro cantos; o Sol, a Lua e as estrelas eram manchas no céu; o céu, o firmamento, era sólido e era o piso da morada de Jeová; imaginavam que o sol viajava ao redor da Terra e que, parando-se o sol, o dia poderia ser prolongado; acreditavam que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos e que haviam sido criados poucos anos antes deles, os hebreus, e que eles próprios eram seus descendentes diretos. Como podemos observar, se há algo certo, é que os autores da Bíblia estavam enganados sobre o que a ciência nos diz hoje. Portanto, devemos admitir que, se o autor da Bíblia foi um ser Divino e criador de tudo, então deveria saber todas as ciências, todos os fatos, e estar acima de quaisquer erros. Se existem erros, enganos, falsas teorias, mitos ignorantes e asneiras na Bíblia, então ela deve ter sido escrita por seres comuns; ou seja, por homens com culturas simples e arcaicas típicas de cada época. Nada poderia ser mais óbvio que isso.

Profecias Bíblicas
         Sobre as profecias descritas na Bíblia, podemos observar profecias semelhantes em várias religiões e todas continuam  50% erradas ou 50% certas. É como jogar uma moeda para o auto, qual a chance de ser cara ou coroa? A Bíblia errou tantas vezes (como menciono em várias páginas do Blog) que deve ser lida literalmente e pode ser interpretada como você quiser. Conforme descrevo no meu livro "2012, o ano das profecias", até existe um código na Bíblia que poderia determinar o final do mundo em 2012 e, como podemos observar, nada aconteceu. Para poder ter previsões nos códigos na Bíblia, teríamos que ter um texto original escrito por Deus. Entretanto, na Bíblia encontramos a história de Deus escrita pelos homens, com muitas alterações de seu conteúdo com o passar do tempo. A Igreja se defende dizendo que "Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades a fim de que, agindo Ele próprio neles e, por eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele próprio quisesse". Portanto, cabe ao leitor uma reflexão sobre o assunto. A Bíblia foi escrita através de uma inspiração divina?

A inspiração divina
         Sobre a inspiração divina, sugiro uma leitura no artigo "A inspiração divina". Agora chegamos a um ponto importante. Como poderíamos provar que Deus inspirou os escritores dos livros da Bíblia? Como um homem pode estabelecer a inspiração de outro? Como um homem inspirado pode provar que está inspirado? Como ele próprio sabe que está inspirado? É impossível provar o fato de se estar inspirado. A única evidência que possuímos é a palavra de um homem e, como sabemos bem, não pode ser confiada.

O arrebatamento
         Por incrível que parece, o artigo sobre o arrebatamento foi um dos mais questionados. Escrevi esse para questionar a loucura dessas pessoas, bem como todos os loucos que acreditam nessa possibilidade. Para facilitar o entendimento, "o arrebatamento será uma forma de salvar alguns fiéis que se elevarão no ar, ficando imunes às dores e aos sofrimentos que afetarão aqueles que ficarem na Terra, portanto, será um evento sobrenatural orquestrado por um ser supremo, envolvendo, estritamente, a fé". Como escrevi no artigo sobre arrebatamento, "essa é uma forma simples e comum que envolve a religião cristã e a sua Bíblia. É uma forma tradicional de se forçar a estar no trilho da Igreja, senão será punido. Novamente a punição! Ou você joga no meu time ou é do contra. Os fiéis esperam... aguardam... tendo que se manter nos trilhos! Eu não posso aceitar um Deus “do mal”, embora muitas passagens da Bíblia o demonstrem assim". Esse mito e muitos outros são esperados e como podem encontrar no meu livro "2012, o ano das profecias" e no artigo "O final dos tempos", onde cito: "Ainda bem que a época que vai acontecer o apocalipse não foi divulgada, mostrando a esperteza de quem elaborou a Bíblia. Esta esperteza de não marcar a data evita o descrédito e fomenta a espera que pode ser longa, ou se acontecer um acidente de percurso, podem dizer “Não falei que iria acontecer!” e, mesmo na eminência da morte, ficarão felizes por terem acertado a previsão". Portanto, pura loucura do radicalismo religioso.

Em que você acredita?
         Sobre a minha posição em relação a Deus, volto a dizer que não sou ateu(*). Hoje não tenho religião, porque não concordo com nenhuma. Mas este é um posicionamento meu e não imponho nem para meus filhos. Posso ir a uma missa com minha esposa, a um culto com minha irmã e a um centro umbandista com amigos. Para mim é a mesma coisa. Cada um com seu cada um! Leia o artigo "Em quem você acredita?".
(*) Segundo o dicionário da língua portuguesa, o significado de ateu é aquele que nega a existência de Deus. Mas, analisando no contexto das religiões, a definição de ateu é muito mais complexa, porque algumas religiões não cultuam deuses, como exemplo, o Budismo, Taoismo ou Xintoísmo, portanto, sob esse ponto de vista, mesmo sendo extremamente religiosos, podem ser considerados ateus.
         Um católico segue a sua religião porque foi doutrinado nela, geralmente, sabendo muito pouco sobre outras religiões. Se tivesse nascido na Índia, provavelmente, acreditaria em Brahma e saberia pouco sobre Jesus Cristo. Se tivesse nascido em uma tribo indígena do Brasil colônia, acreditaria em tupã. Se aceitarmos a unidade de Deus, onipotente como o do cristianismo, não poderemos aceitar aqueles que não possuem um Deus supremo como acreditam os budistas ou existirem múltiplos Deuses como no hinduísmo. Portanto, a crença da população humana é muito heterogênea, implicando em uma incompatibilidade de conceitos. Quem está certo?
Edson Perrone
ecperrone@gmail.com

Perrone, E. C. O outro lado da moeda. São Paulo, Clube de Autores. 2012.

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