Olá


Pagou, tá limpo!

            Fico boquiaberto quando vejo a fé de pessoas simples utilizada para sustentar as mordomias e loucuras de alguns líderes religiosos denominados "pastores". No meu livro "O outro lado da moeda" apresentei um artigo que resume essa loucura. Registrei como o comércio em seitas ditas “evangélicas” é muito comum e descarado. Em um simples vídeo no YouTube encontrei um pastor com a maior cara de pau, cobrando trízimo (???????)(Clique aqui). Este pastor fala: “Você vai dizer para Deus: Senhor, 70% de tudo que me der neste mês de dezembro é meu e 30% de tua obra, do grande projeto... com os 70% que vai ficar com você, você vai fazer coisas que nunca fez na sua vida.” Interessante é que o pastor que cobra o trízimo escolheu o mês de dezembro justamente por ter o 13º salário embutido e, o pior, os fiéis, as ovelhas, “cegos” pela fé, acreditam e doam. Em outro vídeo encontrei um pastor vendendo 100 gramas de cimento para o fiel conseguir ter a sua casa própria. Em outro vídeo encontrei um pastor vendendo água benta por valores que partiam de R$ 100,00 e chegavam até R$ 1.000,00, dizendo que, com apenas uma gota desta água, era possível restaurar a sua vida. E não para por aí, no jornal Notícia Agora de 19 de dezembro de 2012, podemos encontrar uma notícia de capa com uma bispa que lançou um kit de cosméticos de R$ 79,00 que exala o cheiro de Cristo.
                A Igreja Católica não fica fora dessa maracutaia. O livro de Jacopo, Tomat e Malucelli, "O livro negro do cristianismo", registra que, para diminuir a culpa e a pena dos pecadores, a Igreja, durante o fim da Idade Média, passa a fazer “negócios” com o perdão, em troca, claro, de parte do patrimônio dos desafortunados. Durante o Pontificado do Papa Leão X (1513-1521), essa prática atingiu o seu auge, onde o eclesiástico que cometia pecado carnal, seja com freiras, primas, sobrinhas, afilhadas ou com outra mulher qualquer, seria absolvido mediante o pagamento de 67 libras e 12 soldos. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, pedisse para ser absolvido do pecado contra a natureza ou bestialidade, deveria pagar 219 libras e 15 soldos. Mas se tivesse cometido pecado "contra a natureza" com crianças ou animais, e não com uma mulher, pagaria apenas 131 libras e 15 soldos. O sacerdote que deflorasse uma virgem pagaria 2 libras e 8 soldos. A religiosa que quisesse ser abadessa após ter se entregado a um ou mais homens, simultaneamente ou sucessivamente, dentro ou fora do convento, pagaria 131 libras e 15 soldos.  Os sacerdotes que quisessem viver em concubinato com seus parentes pagariam 76 libras e 1 soldo. Para cada pecado de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custaria 27 libras e 1 soldo. A mulher adúltera para se ver livre de qualquer processo e continuar com a relação ilícita pagaria ao papa 87 libras e 3 soldos. Em caso semelhante, o marido pagaria o mesmo montante e, se tivesse cometido incesto com o próprio filho, deveria ser acrescentado 6 libras pela consciência. A absolvição e a certeza de não ser perseguido por crime de roubo, furto ou incêndio custaria ao culpado 131 libras e 7 soldos. A absolvição de homicídio simples cometido contra a pessoa de um leigo custaria 15 libras, 4 soldos e 3 denários. Se o assassino tivesse matado dois ou mais homens em um único dia, pagaria como se tivesse assassinado um só.
                Eu posso estar enganado, mas acho que estas ações vão contra o que pregava Jesus, porque ele expulsou os vendedores e cambistas do templo, por fazerem negócios na casa de Deus e disse: “A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões” (Mateus 21, 12-13). O mais interessante é que alguns católicos querem justificar tantos descasos dizendo que "hoje é diferente". Eu até acho que pode ser, porque o papa Francisco tem tomado medidas radicais para limpar a Igreja. Segundo o Estadão de 23 de maio de 2013, "O Vaticano confirmou seis casos de suspeita de fraude em suas instituições financeiras em 2012. Numa atitude inédita, a Igreja decidiu publicar seu primeiro relatório sobre as ações para combater a lavagem de dinheiro e a corrupção em seus bancos, algo que era considerado um tabu e negado pelos cardeais."
           O difícil é aceitar a roubalheira instituída e explícita atualmente nas Igrejas pentecostais. É demais para minha simples fé. No Jornal Nacional de 24 de junho de 2013, foi noticiado que "a polícia prendeu nesta segunda-feira (24) os líderes da Igreja Cristã Maranata no Espírito Santo, acusados de desvio do dinheiro do dízimo. A investigação começou no ano passado. Segundo a denúncia, os líderes da Igreja Cristã Maranata montaram um esquema para desviar o dinheiro do dízimo. E tinham o apoio de empresários que forneciam notas com valores superfaturados de serviços e produtos comprados pela Igreja. Para o Ministério Público, era uma forma de encobrir o desvio, que pode chegar a R$ 30 milhões." A roubalheira já extrapolou as nossas fronteiras. A revista "Forbes" de janeiro de 2013 listou os seis maiores milionários dessas Igrejas ditas "evangélicas", sendo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, possuidor da maior fortuna, estimada em quase R$ 2 bilhões. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 milhões; e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos.
                É... Parece que errei de profissão. Deveria ter entrado nesse "ramo da fé". Acho que teria sucesso como líder religioso porque me considero inteligente o bastante para não ser "ovelha" e, se por um acaso não conseguisse me dar bem, pelo menos teria aproveitado bastante a vida e agora, "semi-idoso", pagaria meus pecados com a quantia negociada com um "pastor" e, mesmo cometendo tantos crimes, Deus me abençoaria e eu teria uma vida feliz. Muitos “coiotes” travestidos de “pastores” utilizaram e utilizam seus crimes e a posterior "aceitação de Jesus" como exemplo para manipular seus "fiéis". Ex-gays, ex-drogados, ex-assassinos, ex-ateus, ex-políticos e até "extraterrestres" são os comuns manipuladores dos fiéis. Com esses exemplos, como justificar uma vida dentro da lei e da ordem se posso, depois de muitos “pecados”, ter a “ficha limpa” de um dia para o outro e passar a ser idolatrado por muitos? Poderia até vender canetas esferográficas para meus alunos, ungidas com o meu suor letivo, com a promessa de que Deus iria escolhê-lo entre tantos e garantiria sua aprovação no vestibular. Seria um sucesso.
                Esse negócio é bom e muito rentável e não precisa de grandes esforços para montar uma igreja. Os documentos necessários são: documentos dos membros fundadores (CPF, Carteira de Identidade e Certidão de Casamento), comprovante de endereço da igreja e dos membros. Precisa, também, de um estatuto que pode ser copiado pela internet e adequado. Para o registro no cartório, basta apresentar os documentos e o registro sai em até 48 horas. Na prefeitura, o registro demora cerca de um mês. O custo total com serviços de pessoas “inspiradas pelo Divino” sai por cerca de R$ 800,00 e sem os serviços “especializados”, R$ 200,00. Não poderia deixar de registrar os benefícios do empreendimento: isenção de impostos, como Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial (IPTU), Imposto de Renda e Contribuição de Iluminação Pública (CIP). Leia o artigo “Crie sua Igreja”.
                Essas pessoas que exploram seus fiéis são os verdadeiros ateus, zombando da religião pura e da fé dos inocentes que, na maioria dos casos, não possuem a capacidade de questionamento, passando a acreditar fielmente no que esses loucos “pastores” falam. Se existe um Deus para esses “cristãos”, ele deve estar muito triste com o que estão fazendo com seus ideais e com o seu rebanho ou, simplesmente, não se importa.
Edson Perrone
ecperrone@gmail.com

PERRONE, E. C. O outro lado da moeda. 2a Edição. São Paulo, Clube de Autores. 2012.

FO, Jacopo; Tomat, Sergio; Malucelli, Laura. O Livro Negro do Cristianismo - Dois Mil Anos de Crimes em Nome de Deus. São Paulo, Ediouro - Singular. 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário